Sol Negro
A luz dourada do sol que não se vê ao dia aos poucos foi-se escurecendo, entre o tempo de quatro piscadelas e o som de uma gota caindo, todo meu céu se escureceu sem estrelas para que eu o medisse com os olhos de seus brilhos a profundidade do infinito; apenas uma pequena lua, de luz acinzentada, ficou pairando como se por entre brumas nas trevas deste pleno dia. A terra dos meus sentimentos aos poucos começa a mingar, todas as paisagens se transformam em vultos secos abafados pela fosforescência cinza da lua, como melancólicas e esquecidas lápides de ninguém. Uma paisagem pintada com a sensação de leito esquecido...
Saio para caminhar e ver o amplo espaço de nuvens e pássaros se embaraçando, tentar respirar um ar que não o de mim mesmo, e do meu quarto sujo e embaralhado de livros e desenhos. O dia é claro mas eu estou negro, eu vejo mas não vejo, abafado por um desespero mudo como de um nó na garganta - aperta tanto, aperta como um grito para dentro. As pessoas e coisas e os barulhos se embaralhando não me parecem sons que saem das coisas, são vozes que não saem da garganta, mas aparecem no ar da minha escuridão. Um avião rasga o céu que não vejo, olho-o com a secura que os olhos veem, sei porque o olho vê, porém em meu céu está tudo negro sem nuvens e sem estrelas.
Não sinto, por isso não vejo...
Talvez seja melhor voltar, há de ficar ainda mais escuro quando o sol se pôr, para alegria do meu morrer ver a luz prateada da lua e escrever sobre ela. No meu mundo de sensações negras a lua corre atrás do sol, como uma gótica apaixonada por um vampiro. Duas noites ao sol do dia...
Não sinto. A escuridão enegreceu-se. O Sol negro se foi sem o belo crepúsculos de nuvens coloridas. A lua agora me faz companhia, o extremo da tristeza derramada como um balde água me esfria as sensações, uma tristeza que se reflete em minha face brilhando cinza, contemplando a lua em meio as trevas de mim mesmo...