Arte - Pintura e realidade; Olha-se e molda-se aconchegos
Há na vida, formas de se tentar fazer o melhor, para que a pintura nunca borre as bordas da moldura. Vê-se um rosto no quadro, com os mesmos traços fisionômicos, que se vê no espelho. A pintura é a música dos surdos, assim como a música é a visão dos cegos.
Formas ambulantes têm seu estático comportamento inserido na tinta da imaginação. Fita-se a imagem e talha-se em traços, a carne e os cabelos. A arte parte de todas as partes e se sobressai no mais conveniente esplendor ou no mais ridículo de sua tentativa de ser e aparecer para o mundo.
Na vida nada é por acaso. Nem mesmo os erros, porque se tornam desculpas; nem mesmo o sucesso, porque se torna oscilante: ora adquire feições amigáveis e calorosas de um sincero obrigado, ora se torna visivelmente narcisista, dono da verdade, que não sabe exatamente, quem fez ou mencionou fazer.
Tudo se retrata na aparência, mas é preciso não só fitá-la sorrateiramente; é necessário um olhar minuciosamente calculista e então, percebe-se a beleza superficial. Com o tempo e um pouco mais de contemplação e convívio, vê-se aprofundado na essência da embalagem.
A arte de olhar e conquistar; o afeto e o calor de abraçar e muito mais que fraterno, aconchegar carinhosamente.
Homem e mulher é arte progredindo para a velha moldura que ostenta estrelado, o pano de fundo de quem contempla as pequenas coisas, os detalhes de um talhe perfeito ou não. Humanos são quadros, de paredes construídas para apenas, serem paredes, para a eterna arte de moldar e sustentar aconchegos.