Difícil
Difícil é demandar a letra
ante ao tempo de dias tão curtos,
quando a pressa soa seus clarins
e as batalhas nunca findam.
As mãos presas, ocupadas,
dão-se a um movimento repetido,
retilíneo e gasto.
Dos pés, os passos se repisam,
se afundam num mesmo caminho.
Arde-me esse verbo aos olhos
de quase nenhum sono.
Difícil é demandar a letra,
lançá-la ao vôo atemporal
sob a ruína do papel,
dar-lhe a imortalidade e juventude
na infinitude dos séculos.
A idade fará dores
pelo corpo da poesia
agrisalhando suas formas
quando as normas forem outras.
Nada será moderno
face às mudanças do pensamento.
Difícil é demandar a letra
que não seja narcisa de si,
de alento certeiro e preciso
traduzida em frente ao espelho.
No sangue que entinta a pena,
tal musa-poema revela-se
no punho de puro traço,
tomando o braço do escritor.
Finalmente!
A frase solta de amor
exala um odor sempiterno.