Difícil

Difícil é demandar a letra

ante ao tempo de dias tão curtos,

quando a pressa soa seus clarins

e as batalhas nunca findam.

As mãos presas, ocupadas,

dão-se a um movimento repetido,

retilíneo e gasto.

Dos pés, os passos se repisam,

se afundam num mesmo caminho.

Arde-me esse verbo aos olhos

de quase nenhum sono.

Difícil é demandar a letra,

lançá-la ao vôo atemporal

sob a ruína do papel,

dar-lhe a imortalidade e juventude

na infinitude dos séculos.

A idade fará dores

pelo corpo da poesia

agrisalhando suas formas

quando as normas forem outras.

Nada será moderno

face às mudanças do pensamento.

Difícil é demandar a letra

que não seja narcisa de si,

de alento certeiro e preciso

traduzida em frente ao espelho.

No sangue que entinta a pena,

tal musa-poema revela-se

no punho de puro traço,

tomando o braço do escritor.

Finalmente!

A frase solta de amor

exala um odor sempiterno.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 02/08/2007
Reeditado em 02/08/2007
Código do texto: T589850
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