Amarelada e envelhecida alma

Era a mesma sensação de ontem, ou o mesmo juízo de valor, a mesma estagnação do velho, da falta do que pensar e sentir, o dia indo silenciosamente como se fosse lido sempre na impressão de um mesmo livro, o qual nos enjoamos de ler e ficamos apenas a olhar, mas não podemos deixar de lê-lo porque o sabemos de cor...

Vivo-me como uma estrada esquecida na qual já palmilhei muitas milhas; sinto-me como uma sombra de ontem, do velho e do esquecido, por baixo de meu olhar há um amarelão de coisas antigas, um aspecto envelhecido de todas as sensações.

A vida é sempre nova, fresca como no primeiro dia que veio a superfície, mas vejo pela sensação de mim o quanto adormeci para o novo de cada instante. O quanto o passar de mim me fez um homem senil, jovem por fora e murcho por dentro, como um maracujá envelhecido pelo avesso. Minha vida é como um álbum de fotos mal tiradas, coisas borradas pintadas de cores vivas, vultos que não são vistos do que pensei sem terminar de pensar. Só há em mim um olhar passageiro, esguio, fugaz como o dia que vai sendo escrito nas folhas velhas e amareladas da minha alma comida pelas traças do tempo...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 31/01/2017
Reeditado em 05/10/2024
Código do texto: T5898304
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