Esconde-esconde
Isso de em criança se brincar de esconde-esconde parece não acabar nunca. O debaixo da escada de uma casa em construção de repente vira o salto, que esconde a altura. Do alto dárvore entre a folhagem veste a fantasia de carnaval. Embaixo da cama passa base no rosto para disfarçar as manchas. Atrás do poste assume a falta de coragem para um outro emprego, e vem aquele corpo encolhido por trás de uma torre de papéis. Dentro do carro, com o sempre risco de faltar ar, brilha em jóias que quase asfixiam um corpo que não se sabe nu. E aquela procura que o outro faz de nós por vezes se reveste na procura que nós mesmos assumimos. Mas há quem se esconda tão bem que nunca se dá conta de estar escondido. Esconde do sol, da palavra, do gato, do vento, do retrato, de si mesmo, esconde do próprio esconderijo, incapaz de inventar qualquer coisa que o salve, esconde da morte a ponto de morrer sem perceber que morreu. E tem aqueles que pensam no céu, como grande achado e Deus o maior pegador. Numa coisa estão certos: Deus está na brincadeira...