O desejo do que poderia ter e não sido
Escrever tem sido minha fuga, mas como arte tem sido fonte de vida criativa, e que vida não o é? Alegro-me rapidamente ao ler-me antes do esmorecimento do êxtase artístico, sinto como se tudo que ali estivesse escrito fosse o que tinha de ser dito. Orgulho-me. Mas logo vejo que erro no que sinto do que penso, e vejo tantos erros e formas mais belas de dizer uma coisa, que envergonho-me diante do não que não fiz. Sim. Apenas do que não fiz: a obra está lá, tem o seu valor, é o que é foi, para mim não vale mais nada, o que foi passou com o início deste texto que começa numa fuga. Sofro por aquilo que não senti, pelas coisas que não vi, pelas caminhas que não dei, nem darei. Não a dor de não poder escolher outra coisa quando se sente que fizemos uma má escolha. É a dor de tudo poder que quer todas as possibilidades, todos os cheiros e gostos, é a loucura insana de querer ser deus para ser tudo e todas as coisas a todos instantes sem tempo da eternidade...
É querer ser tudo e não ser nada...