Mentira que eu sou
Defino-me somente por imagens, por coisas que não se definem, por isso me contradigo, sou sensação de coisa nenhuma que se sente e rapidamente esquece no passar do dia a dia. Tornei-me para mim uma impressão fugaz, passageira, um respirar apenas da vida, uma folha de alguma árvore, aparento-me ao vento que sente e não se vê passar, assim sou eu para mim mesmo, assim engano-me a mim mesmo. Mas minto, porque assim eu teria uma ideia de mim mesmo. Se penso e tento me dizer, surge-me diante do espírito um milhão de pensamentos, todos querendo dizer alguma coisa e juntos nada dizendo. E torno-me rígido e estático, como uma estátua tentando se esculpir. Só sei falar de mim quando não estou falando de mim, é nas coisas que não estou consciente me encontro desnudado. Deixo de existir se penso em escrever-me, se escrevo é porque minto, e se o faço é só por arte.