VIDAS MARGINAIS
Estou às margens, inquietas, da vida...
andrajoso, famélico, vazio de fé...
Sigo um lúgubre cortejo, de errantes irmanados ,
outrora soldados, filhos de uma mãe gentil...
que foi saqueada... a honra ultrajada
e amordaçada, morre agrilhoada...
num poço sem fundo... escura prisão!
E um vil intruso, usurpou meu berço,
tomou minha casa, mutilou meus braços...
Deu-me por madrasta uma surda-muda
tutora absurda, maldita infiel!
Cega de viseira, rouba meus direitos,
rindo abraça crimes, que rondam a praça...
levantando a saia, Prostituição!
Escarnou meus ombros, sou ferida exposta
bandeira em farrapos, d’estrela apagada.
Sei, sou andarilho da escuridão...
vergando a clava, que é puro ultraje,
dos desempregados... dos analfabetos...
dos abandonados...
alcunha da cruz!
Símbolo desgarrado, é isso o que sou
dos que agonizam,
dos heróis sem causa... sem o seu penhor,
perdidos... sem voz.
Sigo uma canção vazia de acordes,
vago pela vida só e desarmado,
já sem esperança... nem sei pra onde vou...
Não peço iates, caviar, champanhe...
Só peço respeito, sou um cidadão!
Da minha Nação quero me orgulhar,
sou um brasileiro, cujo peito garbo,
cujos braços fortes inda são muralhas
desse meu país, e em sua defesa
morrer? Temo não!!!
Meus olhos são bússolas,
seguindo o Norte do meu coração.
Desconheço as flores... deram-me espinhos,
tecerei com eles coroa de dor e de salvação.
Como condição muito mais que humana pra sobreviver...
deram-me martelo, madeiro, pregos, sangramento,
vida se esvaindo... negam-me trabalho
Morte... vem comigo nessa procissão!