Sensibilidade Frebil
Há em mim uma força que me ultrapassa em todo o corpo, ela excede a consciência dos pensamentos, estagna a máquina inteira num desânimo febril com sensação de amarelão. E tenho a impressão súbita, de alma ofegante, a imagem de um homem se afogando, querendo ar pra não morrer...
É uma contração no espírito, que finca para dentro de si mesma como uma supernova eclodindo. Será este o caos necessário para se dar luz a uma nova estrela? Temo tornar-me um buraco negro e cair na escuridão que não tem mais volta - naquela representação simbólica da loucura: na exposição física de um corpo anarquizado pelas forças que lhe ultrapassam, um doido sonhador dentro do hospício, pacificado num silêncio interno de mil vozes...
E surge-me de repente, um medo metafísico de que esta vida minha não tenha fim. De que só há a mim e ninguém mais. Que não haja saída para fora de mim. Sou arrebatado para um plano da sensibilidade que beira a de homens doidos e gênios, e delírio entre a grandeza e a ilusão...
Há medo. Mas não posso ouvi-lo, sua força cresce quanto mais medo tiver. Sinto-me como a estar embaixo do mar, procurando a luz do sol, pois o ar já tem faltado...
Nem mesmo sei quando chegou a começar; se acostuma a respirar mais lentamente, e a viver sem luz, depois de muito tempo na escuridão. A gravidade vai apertando a cada segundo, espremendo os sentimentos em suco...
Está escuro aqui dentro. Estou só com uma enorme tensão que me vara a consciência de eu a sentir, tensão que não quer superfície, quer cavucar ainda mais fundo, para dentro, para o profundo. Para o núcleo do abismo...