ABANDONO (II)




Reedição.
fotos do autor
Casa abandonada em sopé de montanha
Tapera atirada à dor do abandono
Duas janelas, olhar de estrabismo
Espiando nas rugas das eras perdidas
Algumas pegadas do antigo dono
Caminho do pôço tomado de ervas
Um balde de zinco morrendo de sêde
Mourão da porteira , um pé de arueira
Prendendo sem graça ganchos de rêde
Ninguém a contar que rumo tomaram
Os sulcos rasgados no chão lamaçento
Seria a ilusão que um dia cruzou
O portão desbeiçado,na carroça do tempo?
De resto a fornalha,saudosa de pão
[Arruda,cidró,urtiga,alecrins ...]
Encabulado num canto,feitiçeiro guiné
Desafiando a força,no broto e na raça
Em meio à caliça duma chaminé
Dançam aranhas na roca das horas
Abrigam-se as cabras no chão da varanda
[Telhado caído...Caídos beirais...]
Mastigam silêncios das ervas colhidas
Amargam o gosto de dias iguais
Na beira do charco coaxam os sapos
Ocultos na alvura de sutis margaridas


Se perdem os ecos ao longo dos montes
Em mansas paragens tão esqueçidas
Coaxa em meu peito o sapo da angústia
Desata o nó,libera -me o pranto
Olhar neblinado divisa na tarde
O charco dos sapos vestido de branco
Joel Gomes Teixeira



Comentário:
- JOAO CABRAL
UMA BELA PROSA CHEIA DE SENTIMENTOS E SIMBOLISMOS. PARABÉNS