Você se lembra?

VOCÊ SE LEMBRA?
Miguel Carqueija



Você se lembra, meu amor, daqueles dias tão doces que ficaram no passado?
Recorda aqueles passeios de mãos dadas pela mata verdejante, em ternos idílios, enquanto os pássaros canoros nos acompanhavam e entoavam sem cessar a sua alegre melodia?
Quando o riacho de águas límpidas e pitorescas pontes de madeira fazia sem cessar ouvir a sua música e era sobrevoado por chusmas de ativas libélulas?
E as fadinhas das matas, com suas longas asas transparentes, nos acompanhavam sorrindo e esvoaçando?
Lembra das juras de amor eterno trocadas à beira da pequena cascata? E de como eram agradáveis aquelas tardes no bosque encantado, onde não surgia um único animal perigoso? E onde as flores rivalizavam entre si, cada qual mais bela e em todas as cores possíveis, magenta, lilás, cor-de-abóbora, verde-garrafa, azulão, amarelo-dourado?
O que aconteceu com tudo isso e com você?
Porque aqueles dias felizes acabaram quando vieram os cataclismos que o próprio homem causou, e vieram os incêndios, as inundações, os terremotos, e não estávamos juntos quando tudo aconteceu e tivemos de fugir cada qual para o seu lado, e nunca mais nos encontramos?
Onde estiver, querida, você ao menos recorda as árvores, as flores, os passarinhos, as fadas, os riachos, as pedras, toda aquela beleza perdida e todas as horas que passamos felizes?
Você se lembra?
(Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2017)