A Monocultura no Jequitinhonha
Mês de maio para junho, adentrando ao mês de julho: a metade do ano chegou, a paisagem se resume a tons pastéis e mais parece o rascunho de uma tela que ainda tomará sua forma final.
A festa dos animais com seus filhotes vira uma disputa por cada fruta ou grão e o que quer que sirva de alimento nesse árido torrão.
O sorriso da fartura, que outrora estampava o rosto do sertanejo, da lugar a uma expressão franzida como o leito seco de uma lagoa tomado por poeira, aridez e tudo aquilo que nos faz lembrar escassez.
Mês de agosto é uma dureza e entrega a setembro uma herança de tristeza.
Outubro é o mês do finalmente, é como se depois um tempo de enfermidade, sentir a cura vindo num corpo há tempos doente.
Lá vem o vento, chegando com um anúncio aguardado por todos, trazendo as boas novas e anunciando um novo tempo que vem substituir esse que agora, é sofrido e cinzento.
Sem uma gota d'água a tinta é diluída pelo Artista e a tela vai tomando forma, ganhando vida. A vegetação guerreira em cores vibrantes floresce como se pedisse socorro dizendo: ainda estou viva, me ajude! Não esquece!
Enfim, novembro está presente. Nuvens carregadas e azuladas trazem consigo trovões e relâmpagos que fazem um show de sons e luzes anunciando a chegada da salvadora, a visita mais esperada do ano, que sempre é bem vinda e recebida com todo amor: a Chuva, sinônimo de vida, que lava o pó, a alma, levando todo sofrimento, preocupação e a dor.
Agora com água a pintura está pronta, o colorido se entrelaça em degradê a todos os tons possíveis de verde, é lindo de se ver.
Já é dezembro, nos preparamos para chegada de um novo ano. Outro tempo já é sentido, dispensa cheia e mais um ciclo cumprido.
Plantamos e colhemos de tudo um pouco, mas apesar da grande variedade de sementes e mudas no solo molhado, ainda cultivamos uma monocultura, a Monocultura da Esperança, é essa quem faz o adulto triste e cansando ter a alegria e o vigor de uma criança.