O homem rola a tela do computador, escreve alguma coisa, depois corre para o celular e vasculha o Whats, procurando em algum lugar o sorriso que perdeu. O livro sumiu. Como reencontrar um tesouro perdido nas Ilhas de Salomão? O cérebro é uma caverna venosa, como teia de aranha numa gruta nunca penetrada por exploradores. Nele há uma biblioteca enorme de todas as páginas folheadas durante sua existência, algumas cobertas de cinzas, por falta de manuseio.
— Sequer entendes por que uma concha reproduz o som do mar, e queres entender o cérebro humano? É mais fácil entender o que pensa uma pedra, que decifrar o barulho da maré, guardado numa concha abandonada.
— É só impressão, Bobinho! A concha não reproduz o som do mar. Ela apenas concentra os sons, produzidos em seu derredor como a reverberação do eco numa caverna.
Sentiu-se um caranguejo ermitão arrastando nas costas a casa alheia. Não descansa. Caminha na orla, nas dobras do mar, procurando na praia por seus desejos, anseios e medos, numa luta vã contra o rochedo em eterna busca do amor arrastado pela correnteza, mas com certeza, seu segredo é o medo de amar, de libertar o gênio aprisionado em seus medos. Não há praia. O mar cobriu toda a areia de sua esperança. E só encontra a fantasia tocada pelo vento de suas lembranças. Está só. Corre para o computador, depois mexe no celular. Aparece no Whats uma parenta, insinuando ter encontrado uma maneira de ficar rica: comprar um hospital psiquiátrico para internar a família. Mas ela mesma esteve mergulhada no calundu por mais de uma semana. Em fim, o sorriso chega cauteloso, escondendo uma lágrima.
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Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...
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