PARA SEMPRE

Era uma vez, nos longes do tempo, na infância da emoção, eu te buscava desde que a primeira estrela foi criada. Eu era menino, eu era príncipe, eu era cavaleiro de armas e armaduras, sobre corcel branco, para ir ao fim do mundo só para chegar ao começo de tudo. E dali voltaria (herói!), trazendo comigo os rumos que me levariam aos labirintos da minha razão onde, encastelado, dormia o sonho que eu quisera nunca mais perdido.

Desde que a primeira estrela foi criada, eu era menino e sonhava o futuro. E o futuro tinha teu rosto. E eu te chamava sem saber teu nome. E eu te buscava sem saber onde. E eu te via – não me pergunte como – do jeito que sempre havias de ter sido. E eu já sabia que o meu sangue só em ti pulsaria, pois uma outra vontade já tomara meu corpo como se eu fosse morto, me fizera de túmulo – eu era seu túmulo, e tu, a alma procurada. E eu já te sentia um sopro de saudade vindo de longe e chegando tão perto para o tempo de outras eras ser refeito da promessa esquecida. E, para isso, eu já voltava ao primeiro jardim e tu andavas, nua, por solitários caminhos de antigas heras – cruzados destinos enraizados nos subterrâneos da mente e traçados nas palmas das mãos. E tu andavas nua – casta e diva!

Como em procissão, eu te seguia, levava nas mãos uma coroa de hera que em louro resplandecia – vitória de quem se sabia vencedor do presente por trazer eternas lembranças da vida ainda por viver. Desde o sétimo dia para além das eras, com mão certa, escreveu-se a minha história que era também a tua, em que se viveria o amor que ainda nem se sentia.

Eu te procurava, casta e diva, desde que a primeira estrela foi criada. Para te encontrar, seguia os rumos da minha mão e, de repente, ao olhar para dentro de mim, eu só vi a ti – do reflexo que dormia no lago do pensamento profundo, brota a hera de esmeralda a me cingir inteiro, a me ungir com desejo e sentimento, a me fundir na predestinação do amor para eu perder a paz e te deixar habitar o meu ser – túmulo, aconchego de alma; castelo, morada de princesa; príncipe, sonho de namorada.

Eu já era contigo desde que a primeira estrela foi criada.