Caminhos da Baixa Verde

Nunca aprendi nada com a derrota. Esse pensamento é meio torpe, claro, mas aquele negócio de dizer que o importante é participar, a mim mesma nunca disse nada! Se perco ou caio, se me machuco ou desmaio, a mim mesma não ensina nada. Mudo o caminho, me evado, dou rasteira no destino, sigo a tino, e não insisto "naquilo", pois de mansinho ou de repente, dessa lamúria logo saio. A perda me atrasa, com ela desaprendo, fico sem tento, por isso faço um giro, dou retorno em mim mesma e outro desejo logo alço.

Quando menina, minha Mãe me mandava nas minhas férias para o Sítio de meu Avô, Ferreira. Lá nas brenhas da Baixa Verde me sentia livre e faceira, de uma ousadia pueril, dona do meu pequeno nariz.

No balanço amarrado num galho de oiticica, que Tia Donda mandou Molico fazer pra mim, me sentia quase vitoriosa, e num balanço muito alto, gritava imperiosa:

- empurra bem alto Lequinha, senão te bato! do último galho quase passo!

Mas não me sentia satisfeita, por mais que alcançasse os galhos, o mais alto não tocava. Daí cançava, me enfastiava e procurava outra brincadeira que me entretesse... acalentasse. Tia Donda se preocupava com tamanha precundia e dizia:

- Lêlinha, vai lá onde tá as galinhas, cata os ovos e traz pra cozinha, princesinha!

Vixe, aí que eu me amuava. Cruzava os braços, até chorava... Catá ovo só se fosse das guinés, que no mato brabo botavam. Assim, Tia Donda desistia e não brigava. Ela ponhava um chapelão de boa sombra em meu quengo e assim, eu seguia animada naquela quentura, naquele marasmo.Tão branca que alumiava! Encandescia a visão de quem olhava. E embrenhada naquele sertão, que de longe parecia miragem, com dois quartos de hora eu voltava toda resfolegante e suada. Trazia dois ou três ovos na mão, mais nada. Daí entrava em casa emburrada com aqueles guinés que me ganhavam.

Tia Donda, coitada, não sabia como me acalmava. Me adulava, cantava e me chamava pro asseio. e em cima de uma pedra me lavava e dizia: areia o pés que hoje tu foi por demais danada!

Quando a noite caía naquelas bandas de sertão agreste, e no céu as estrelas brilhavam, minha Tia, Molico e eu desciamos pra casa grande de Vô Ferreira. Lá naquele alpendre, ele ascendia a fogueira. Algumas noites lia versos de cordel e em nossa mente era como um filme que passava.Outras tocavam a viola e a meninada pulava e cantava... eu logo cansava, devido a traquinagem do dia, e Molico me levava no colo pra dentro de casa, ascendia a lamparina e num instante eu já sonhava... alumiada pela tênue luz que levemente bruxuleava.

Até hoje me recordo das minhas pelejas e teimosias. E ainda me pego amuada e de vez em quando choro ou cruzo os braços... mas sempre sigo a tino... ganhando ou perdendo, vou construindo significados e assim sou feliz, porque meu caminho...eu mesma traço.