DEFINITIVO
Um morto que insiste em se manter vivo, que se putrefaz,
deixando rastros de gosma fétida e pegajosa,
teimando em permanecer de pé
mesmo quando a gravidade
o impulsiona ao contato imediato com o chão.
Roupas em trapos, entre rasgos e amassos.
Veias supuradas de onde sangue coagulado
cai como bolinhas de gude.
Rastro de pele, ossos e coágulos sanguíneos
marcam os passos de seus pés
sobre sapatos mal acabados
insiste em se arrastar...
como bom condenado;
perambula só...
os poucos que o vêem se afastam, virando o rosto
franzindo o senho
tapando o nariz.
Mas ele parece não entender,
como se não percebesse seu estado lamentável...
parado em frente a uma vitrine;
observa-se... observa-se e continua a observar,
não entendendo a visão que tem em sua frente;
onde estão os olhos vividos e brilhantes?
Onde está a pele alva como o amanhecer?
As mãos tateiam esta circunferência craniana
a qual não reconhece...
pele enrugada, instável, que desgruda da base
como se não aceitasse mais lhe pertencer...
grito mudo ecoa em suas entranhas
fazendo sua carcaça chacoalhar...
enquanto se mantém estático.
O mundo parece rodopiar em uma velocidade luz.
Finalmente cai sobre seu eixo
desfazendo-se em mil pedaços,
cinzas, enfim levadas pelo vento.
Silêncio... só os corvos choram sua partida.
Tudo volta ao seu normal!