DEFINITIVO

Um morto que insiste em se manter vivo, que se putrefaz,

deixando rastros de gosma fétida e pegajosa,

teimando em permanecer de pé

mesmo quando a gravidade

o impulsiona ao contato imediato com o chão.

Roupas em trapos, entre rasgos e amassos.

Veias supuradas de onde sangue coagulado

cai como bolinhas de gude.

Rastro de pele, ossos e coágulos sanguíneos

marcam os passos de seus pés

sobre sapatos mal acabados

insiste em se arrastar...

como bom condenado;

perambula só...

os poucos que o vêem se afastam, virando o rosto

franzindo o senho

tapando o nariz.

Mas ele parece não entender,

como se não percebesse seu estado lamentável...

parado em frente a uma vitrine;

observa-se... observa-se e continua a observar,

não entendendo a visão que tem em sua frente;

onde estão os olhos vividos e brilhantes?

Onde está a pele alva como o amanhecer?

As mãos tateiam esta circunferência craniana

a qual não reconhece...

pele enrugada, instável, que desgruda da base

como se não aceitasse mais lhe pertencer...

grito mudo ecoa em suas entranhas

fazendo sua carcaça chacoalhar...

enquanto se mantém estático.

O mundo parece rodopiar em uma velocidade luz.

Finalmente cai sobre seu eixo

desfazendo-se em mil pedaços,

cinzas, enfim levadas pelo vento.

Silêncio... só os corvos choram sua partida.

Tudo volta ao seu normal!

Adda nari Sussuarana e Grace Kelly S. Silva (BAGOÉ)
Enviado por Adda nari Sussuarana em 29/12/2016
Reeditado em 01/01/2017
Código do texto: T5866139
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.