Botão

A noite se fecha e fecho minhas mãos e abrem-se pétalas que não sei aonde. Em algum lugar que não conheço. Eu não mereço o perfume do teu pensamento que me vem na aragem fria da madrugada trêmula. A noite treme no frio, treme essa luz contra o vento e são dos teus olhos que eu lembro. Estremeço, eu não te mereço. Não mereço o que sinto quando te sei amiúde a adornar meu corpo de estrelas, a me soprar na nuca desejos de revelar segredos entre quatro paredes. Eu não te mereço quando a te revelar nas sombras que teço eu me vejo na lâmina verde do teu olho espelho, e estremeço como a flor de algodão no meu vestido estendido ao relento à espera da tua mão a colher-me em botão. Não mereço o coração na mão a bater-me na boca o silêncio que pulsa nas veias ao te saber na areia onde não piso, não alcanço, não sei onde. Onde estão os teus castelos, as tuas torres, as tuas mansardas de olhar o céu?

Eu não mereço esse rosto coberto de véu.