Olhar
Preciso de uma boca, não a minha, para dizer verdades, ilusões, desamores e amores
Que diga sonhos que me amparem e verdades que ainda não sei se quero conhecer
Quero uma boca para beijar, mastigar, engolir e calar por algum tempo necessário
Preciso de ouvidos que ouçam meus medos, minhas dores, meus pesadelos, meus terrores
Que escutem a minha música murmurada, meus sonhos silenciados para o sempre do já
Quero ouvidos para sussurrar o que não ouso gritar para não me espantar demais
Preciso de braços fortes para acalmar meu susto diante do que é irremediável
Quero braços que se abram para me aninhar e que se fechem para que eu não escape
Que tenham a sabedoria de me expulsarem para que eu vá e não para que eu fuja
Preciso da certeza de uma verdade que eu não acredite para que possa questionar
Quero um jeito de olhar que contrarie minhas expectativas demasiadamente sólidas
Um olhar tão concreto ao qual eu me renda por não ter argumentos válidos para contestar
Preciso enganar um olhar e ver o brilho que terá ao ver que a sou a mentira do instante
Uma boca para morder, olhos para nublar, um corpo para profanar, braços para prender
Apenas um momento para me reencontrar e ser o que quis ser ou ser o que fui alguma vez
Encontrando-te, quero perder-me em encantos e perecer até o momento de ressuscitar
Olhe e veja os cachos de estrelas que estão diante de todos os olhos cegos para elas
Há sim cachoeiras de luas que transbordam rios de alegrias celestiais; posso jurar
Em espirais, relâmpagos brilham nas noites amantes dos dias que chegam imersos em sóis
Erros mergulham em ondas e se transformam espraiando em acertos gentis nas areias
Uma confusão barulhenta ecoa na sorte distraída de um silêncio colorido e abstrato
Tudo está onde precisa estar e não há certo e nem errado; só um ponto de referência
Transpor a nudez explícita, explica porque de todos os porquês que latejam latentes
Lamento tantas partidas inúteis, para me fazer feliz, inclusas em fórmulas débeis
Estou atirando-me na noite e no amanhecer esperando por uma boca de um ser inteiro
Todos os dias têm noites que têm dias repletos do que quase nenhum olho quer ver
Há uma salvação diária e um tanto cansativa da qual se eu me abster, morro, então...