As quatro estações
A boca da noite clássica a engolir VIVALD,
mastigando-o por inteiro, com seus dentes de violino
e sua saliva de violoncelo.
Vem toda cheia dele, parando de vez em quando sua gula
e o repartindo, pedaço em pedaço, a todos que passam e fitam-na
e ouvem sua mastigação de carne e espírito, instrumentos e sons.
Tudo parado e extasiado, vivendo as muitas roupas do passado, que guardavam e amavam belos seios e belas pernas;
vivendo toda monarquia e monotonia da realeza,
cheia de pedras e quedas.
Salões cheios de cadeiras de madeira de lei,
todo chão coberto por tapetes,
todas as mulheres sentadas e desejadas e
a música pingava solene,
escorrendo pelo ar, gota em gota,
caindo na boca da noite clássica, tapando-lhe a garganta, fechando-lhe os olhos
devorando- lhe a gula e o desejo...