De dezembro a dezembro

Curitiba, 05 de dezembro de 2012.

Dezembro, dezembro. Tenho a impressão de que há pouco te saudei. O mais ultrapassado dos clichês, iluminados agora pela sustentabilidade.

É uma pena que o Papai Noel agora seja só um enfeite na estante de casa, que aquele lance de renas e neve estejam apenas no imaginário das crianças. Pena que hoje elas queiram crescer tão rápido.

Teve um tempo que eu era como elas, pensava que quando fosse adulta seria mais feliz e hoje que cresci, tudo que mais tenho vontade é de voltar à época em que minha maior preocupação era ser uma boa menina, esperar meus brinquedos, acreditar que minha simples cartinha chegaria mesmo ao Pólo Norte e o bom velhinho, sentado em sua poltrona perto da lareira a leria com o maior carinho. Mamãe Noel, fazendo aqueles biscoitos natalinos, chegaria até a sala e ofereceria ao Papai Noel uma caneca de chocolate quente.

Eu não sei como ele dava conta de tantas cartas e de voar pelo céu do mundo inteiro em apenas uma noite sem ficar cansado, sem se esquecer de ninguém, como dizia aquela música. Hoje eu rio dessa pureza toda que eu tinha. Tudo que se perdeu. Assim é a vida, você perde para poder ganhar.

Guarda mais um ano até o último segundo. Já que pode fazer isso, zela pela minha esperança também, me deixa sonhar que o ano que vem enfim vai ser o ano que eu vou rir mais do que chorar e que se chorar, que seja por algo que vale a pena.

Que se o amor chegar, não iremos nos desencontrar. Eu saberei o caminho, não terei medo e se tiver, o próprio amor o levará para longe. Juntos aprenderemos, eu posso sentir. Eu posso respirar sua presença. Dentro de mim ele está, apenas esperando por alguém que também precise de amor, para que juntos partilhemos da nossa maior missão.

Que nesse próximo ano eu viva tudo aquilo que mereço. Vou realizar mais do que planejar. Farei acontecer porque já me esgotei de tanto esperar e nada vir.

Que no ano que vem eu seja dona de mim. Que eu aprenda mais, me estresse menos.

Que a magia do Natal não seja apenas uma lenda.

Que a saudade me atormente bem menos e amenize as culpas também.

Que seja possível visualizar o Sol quando estiver abatida. Que meu sorriso ilumine a mais alguém. Que as vitórias se multipliquem e os eventuais escorregões me fortaleçam.

Esse friozinho me faz lembrar a infância, quando eu via aqueles filmes natalinos e sempre sonhava que alguma coisa daquele tipo iria acontecer comigo. Neve, milagres, tudo.

As músicas todas são tão lindas e eu queria que a bondade da humanidade não acabasse no primeiro gole de reveillon, na primeira votação do reality show, que a tão admirável ingenuidade das crianças permanecesse viva em todos os corações de janeiro a janeiro, para que aí sim seja possível fazer um mundo melhor porque só falar de nada resolve. Palavras se perdem.

O que me faz chorar é pensar que muitos desses desejos de véspera nunca se realizam. Ah, se eu pudesse pedir qualquer coisa ao Papai Noel. Tanto a dizer, tão pouco tempo a meu favor. Não sei se me comportei o suficientemente bem para ser merecedora de um colo, de um piedoso olhar que não irá me julgar, mas saber que tentei. Sei que é um por vez, felizmente. Mesmo que alguns discordem da minha teoria, todo mundo precisa de algo para acreditar.

Promessas não me interessam porque grande parte são enterradas juntamente ao ano velho, embora os erros persistam para sempre enquanto não avaliados. É isso que poucos entendem.

O presente simboliza a importância das pessoas na minha vida, ainda que a dádiva de estar aqui em plena harmonia seja a maior das bênçãos. A farta ceia não deveria ser ostentação, mas sim um momento de agradecer por tudo.

Passa-se tanto tempo reclamando que a amargura toma o lugar da sensatez. Insatisfação, impaciência. Pra lá e pra cá. Vive-se do inverso. Então deveria ser inverno. Mas é, acontece que não neva. Os corações é que são frios, cada qual justifica como bem entende.

Na real, como ressaltei antes, os preparativos acabam sendo mais importante que o espírito em si. Isso é que estraga o mundo. As pessoas dão importância ao preço de tudo que passam todo tempo tentando ser o que não são e não reconhecem isso, embora tentem e eu não desmereço.

Talvez eu veja por demais, espero que sim. Espero também me preocupar menos, bem menos e entender mais, não me sentir tão triste quando uma simples canção me faz recordar com um nó na garganta de todos aqueles que amavam o Natal e já não mais podem celebrá-lo, que eu também já não sou mais aquela criança e vou ter que aprender a conviver com ausências, sem nunca perder o amor porque não quer dizer que só porque alguém já partiu que o esquecerei como se sua existência não tivesse valido. São agora estrelas, procurando por meu olhar. Brilham com força, para que eu as veja e não chore mais. Pouco pode ser muito, mas nem sempre.

E se nesse ano que entra eu puder mesmo ser o que quiser, eu diria que ser feliz é só o que me interessa. De dezembro a dezembro.


*** Por motivos pessoais, infelizmente tive que bloquear os comentários e o contato para evitar a aproximação de um stalker, mas mesmo assim aproveito para expressar minha gratidão pelas leituras. Muito obrigada pela atenção! Tenham todos um ótimo natal!
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 21/12/2016
Reeditado em 01/05/2018
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