Multidões descem ao subsolo pelos degraus que dão acesso à estação do metrô. As janelas do trem mostram meio corpo de pessoas, como blusas no cabide, penduradas num guarda-roupa em movimento. O trem metropolitano parece estar parado, as roupas é que correm ferozes. Vultos velozes de homens e de mulheres passam voando. Não dá tempo de processar, decodificar e reconhecer as mulheres bonitas que se misturam com as dentuças, banguelas, brancas, pardas, e amarelas... Homens de toda estatura: sérios, grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e amarelos. Más e boas criaturas, enfim, gente com vestes de muitas cores e padrões, que revelam o nível social e o poder aquisitivo de cada um. Ali viajam panos finos, mulheres, homens e meninos com roupas caras de famosa etiqueta, e as baratas compradas na feira livre. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada. Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. Passageiro é seu nome.
***Adalberto Lima — Fragmentos de Estrada sem fim (obra em construção)
***Adalberto Lima — Fragmentos de Estrada sem fim (obra em construção)