Janus

Meus olhos pincelam a cidade semi-desperta

Da profusão das cores da paleta, saltam matizes de cinza

Gotejando nos passantes o orvalho da noite mal dormida.

Desfila com pressa o imenso arco-íris de cachecóis, casacos, saias e jaquetas.

Submergindo do verde musgo, sereias despontam entre barracas tingidas de amarelo.

A roupa torcida na praça aguarda o despontar do sol,

Ao lado o menino acorda em meio à comunidade descalça,

A figura de alvas barbas e roupas vermelhas fita o nada,

Talvez pelo medo de tornar-se um deles ou pela incapacidade de ver-se um deles, personagens de uma vitrine de natal.

A cidade acorda e fita seus insones filhos invasores

Falta acolhimento em seus olhos cinzentos e em suas mãos frias,

Mas falta também o acarinhar do filho rebelde que teima agredi-la

Despejando nela suas frustrações e tristezas.

Imagens impregnadas dos traços do grande artista.

Duas cidades, duas faces, um mesmo deus,

Pelas calçadas o senhor do tempo transita entre passado e futuro

Da entrada faz a saída, do fim constrói um recomeço.

(Praça Osório. Curitiba/Paraná/Brasil)

Silvana Mello
Enviado por Silvana Mello em 12/12/2016
Reeditado em 05/09/2018
Código do texto: T5851125
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