Janus
Meus olhos pincelam a cidade semi-desperta
Da profusão das cores da paleta, saltam matizes de cinza
Gotejando nos passantes o orvalho da noite mal dormida.
Desfila com pressa o imenso arco-íris de cachecóis, casacos, saias e jaquetas.
Submergindo do verde musgo, sereias despontam entre barracas tingidas de amarelo.
A roupa torcida na praça aguarda o despontar do sol,
Ao lado o menino acorda em meio à comunidade descalça,
A figura de alvas barbas e roupas vermelhas fita o nada,
Talvez pelo medo de tornar-se um deles ou pela incapacidade de ver-se um deles, personagens de uma vitrine de natal.
A cidade acorda e fita seus insones filhos invasores
Falta acolhimento em seus olhos cinzentos e em suas mãos frias,
Mas falta também o acarinhar do filho rebelde que teima agredi-la
Despejando nela suas frustrações e tristezas.
Imagens impregnadas dos traços do grande artista.
Duas cidades, duas faces, um mesmo deus,
Pelas calçadas o senhor do tempo transita entre passado e futuro
Da entrada faz a saída, do fim constrói um recomeço.
(Praça Osório. Curitiba/Paraná/Brasil)