Onde já se viu, a menina se apaixonar pelo mar?
A mãe avisou para não ir brincar perto demais do mar. A voz alertando que era perigoso demais ecoava em um canto esquecido de seu ser. Arriscou-se pois o achou bonito demais para não ser aproveitado. Não soube apenas molhar os pés e ir lentamente acostumando-se até gradativamente estar completamente molhada. Disparou sem pensar duas vezes diretamente para aquela imensidão da qual não tinha conhecimento. Não sabia que era necessário saber nadar, aquilo era traiçoeiro e a faria se afogar. A correnteza empurrava cada vez mais para o fundo, cada vez mais dentro daquela imensidão e sem chances de escapar. Não havia fôlego para gritar por ajuda. Conseguiu subir algumas vezes antes de ser engolida por aquela força que superava a sua mil vezes. Arrependeu-se. Odiou-se. Até que acostumou-se. Manteve os olhos fechados até criar coragem de observar o que a cercava. No primeiro momento, não compreendeu. Havia apenas imagens borradas, infinitas imagens que não se explicavam. Forçou os olhos, tentou se acalmar e olhou ao redor mais uma vez. Havia beleza em toda aquela dor. A desobediência a concedera uma experiência sem igual. Vira coisas tão belas que limitou-se a guardar consigo pois ninguém compreenderia. O mar estava agitado, assim como seu estômago que se agitava em torno de sua ansiedade. Entendeu que deveria se acalmar se quisesse sair ilesa dali. Isso se de fato sairia dali. Aprendeu a conviver, em alguns momentos até ceder. Não aprendeu a nadar, mas era boa em flutuar. E observar. E deixar o tempo passar. O mar às vezes a chamava para brincar. E mesmo correndo o risco de se afogar, não pensava em recusar. Onde já se viu, a menina se apaixonar pelo mar?