A Poronga de Seu Diógenes

Belém, 11 de dezembro de 2016.

No meio daquela multidão de assustados, cabeças baixas liam estupefatas as notícias naquela cidadezinha do Marajó.

Tal multidão seguia como uma boiada tocada pelo próprio fazendeiro, chicoteada nos lombos sem marcas.

E naquela manhã de sol, mocinhas escondiam-se nas sombras para melhor ver a tela,

concordavam com a notícia que lhes chegavam às mãos, apesar da radiante estrela ofertar a vida em forma de fótons.

Rapazes ajeitavam a gola das camisas com uma das mãos,

a outra a continuar movendo o aparelho para visualizar o que estava escrito.

Madames e bons senhores riam da piada daquela nota lida, pescoços curvados e até diria nodulados de tanto não enxergar o óbvio.

Para lá e para cá circulavam as pessoas como se olhassem pro chão,

mas não olhavam pra terra, antes fosse.

Era para o aparelho.

A notícia espalhada naquelas pupilas e que não chegavam ao cerebelo.

Anedotizava-se que circulava na cidade um pobre homem, vestes rasgadas, trazendo uma poronga em pleno sol.

Todos clicavam e reagiam com bonequinhos-figura de mil reações.

De curiosidade.

De espanto.

De risos.

De desprezo.

De piscadela.

De raiva.

Menos de um coração.

Alguém sugeriu que este homem estava apenas chamando a atenção para algum político.

Outro o digitou comunista.

Outro o digitou pornográfico.

Outro passou direto pelo texto, mais interessado estava em uma corrente.

Seu Diógenes, enquanto isso, aspecto bonachão, andava no meio das pessoas, decidido, apesar de invisível neste paradoxo.

Desfilava a poronga na cabeça, fumaçando o antigo querosene, com seu pequeno sol no alto da fronte e da lamparina.

Permanecia no contra-fluxo da maré.

Cantava o refrão naquele pedaço de Marajó:

"Procuro uma Pessoa

Quem será que é?

Quem será que é?"

Ninguém deu bola.

Seu Diógenes deu de ombros e caminhou para o porto.

Sentou no casco, pegou o remo e não olhou para trás.

Seguiria em sua busca rios afora até a poronga apagar.

Que não apagava.