O SILÊNCIO DAS COISAS
Hoje, o silêncio das coisas falou comigo mais do que em qualquer dia.
Os movimentos ficaram parados.
Tanto os sociais quanto os físicos.
Tudo se calou em plena luz do amanhecer.
Muitos silêncios já foram ouvidos, mas
Agora estou ouvindo o silêncio dos sons,
A impossibilidade de todas as linguagens,
Os palavrões negados por todos os santos,
Mas sentidos e pensados por eles.
Ouço minha própria mudez e não suporto.
E o silêncio me falou que existem dois tempos:
O tempo social e o tempo real.
O tempo social é onde moram os que vão ao paraíso,
Onde você tenta fazer tudo o que você sempre
Quis fazer, mas nunca faz
E continua tentando.
O tempo real é onde moram os mesmos tipos
Quando a hipocrisia está de férias.
É onde você faz tudo de que você nunca gostou,
Nunca quis fazer,
E continua fazendo!
Dois tempos que eu não quero.
Eu quero o irreal e o anti-social.
E o silêncio disse que não há tempo pra mim.
Que sou marginal e pusilânime diante de tanta
Sociedade, de tanta realidade.
Mas não me sinto só.
Sou como uma bigorna ao vento:
Nem me mexo, mas sinto-o.
E do silêncio não recebo senão o rastro,
O vácuo,
O que ele não quer deixar porque nem sabe
Que deixa.