NOS AFAGOS DA MISÉRIA
NOS AFAGOS DA MISÉRIA
Acorda criando mitos do sonho que teve
de relance pensa estar vivendo
o ontem a noite agora pela manhã
amanhece calado olhando a maré
que banha solitária as areias da praia
enquanto ainda ninguém disse
que o mar está assim parece
um céu caído sobre a terra
sobre a terra pergunto se há
sobre a terra um céu amando de estrelas
a mando de algum desses Deuses
que nomeados sentidos podem
dar ao sentidos um título que nunca tiveram
por exemplo que posso ser
de um signo que mascara minha sina
destina um tempo que eu não tinha
pra oferecer uma alma que não
aquela alma minha que venho
perseguindo desde cedo desde sempre
deste medo de perder atitudes normais
que normal seja animal feito homem
que dizem ser um nome quando requer
ter aceito que foi desde sempre
um sinônimo da fome de fêmea
e nada mais que isso
persigo isso desde cedo desde sempre
desde agora posso perder-me
não ouvindo o que estão falando
quem sabe o que estou ouvindo
deve ver-me brando como alguém
alucinado pode ser alienado talvez
seja mesmo um ignorado
como foi a tarde em que viram
o sol descendo na colina
e entenderam que a terra deva tê-lo
engolido escondido esperando
a lua dar seu brilho sobre a noite
os mesmos que esperaram a sorte
e veio a morte então resolveram
que precisam de santos
e outros argumentos falíveis
onde o manto transparece visível
a dissolução de abismo destes crentes
carentes da falta violenta do amor
que confundem com a falta
de amor que nunca falta
por que amor é completude
não precisa não insiste apenas compreende
quando acende no interior da alma
aquela mesma falta queimando
com calor estranho procurando
um lugar onde a sombra possa ser...
...descanso!
MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morphine