Ao anoitecer
Olho pela janela e vejo a cidade sendo engolida pela noite.
A noite tem dentes pontiagudos e língua escura que lambe os telhados.
O medo anda de mãos dadas com a solidão. Crestam-se beijos nos lábios das avenidas quentes.
Acendem-se luzes para delatarem o que se pretende esconder.
O crime faz seu percurso variado e dá vida às reportagens do dia seguinte.
Olho pela janela, pessoas uniformizadas, regressando para casa. Como são descaracterizadas pela ordem imposta!
Vão ao passo da pressa que as conduzem para o merecido descanso; e a noite sugere que voltem a ser gente e não objeto de trabalho.