Interlúdio.
Interlúdio
07.12.2016
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Ana Luísa Ricardo
Eu acredito em ciclos. Em fins e começos, nessa ordem. E que tudo termina e começa, que tudo continua, porque nada tem um fim permanente. Lembranças pretéritas sempre retornam, pensamentos futuros surgem, de tempos em tempos, lembrando-nos que o caminho ainda é longo e que há muito por ver, sentir, realizar. Que o tempo não para, porque o show tem de continuar, independente se o coração do artista está intacto ou partido. Que poesia chega em todas as formas e cores. E que, triste ou feliz, continua sendo poesia, pelo inferno e céu nosso de cada dia, porque nem tudo são flores. Os espinhos são necessários para nos mostrar que dores e sofrimentos são passageiras, e que também somos. Feliz aquele que sabe onde quer chegar.
Eu acredito em ciclos. Em términos dolorosos, que são necessários para edificarmos recomeços, reconstruirmos elos, pavimentarmos laços afetivos antes esquecidos ou ignorados, regar os sonhos negligenciados pela rotina. Sonhos de aqui e além. E que, mesmo quando a antiga música que nos embalava pela vida terminar, mesmo que aquela música jamais toque novamente, sempre haverá melodias novas, surpreendentes. É preciso dançar conforme a música e, de vez em quando, desacelerar os passos para não tropeçar nos próprios pés. Já dizia uma autora da qual gosto muito. Se a vida mudar a música, aprenda uma nova coreografia.
Eu acredito em ciclos. E compreendo que todo caos gera algo bonito. Que ser sacudido pelas expectativas frustradas, pelas promessas quebradas, pela racionalidade da vida, são coisas tão importantes quanto um momento de calmaria. O caos, a desordem, os obstáculos é que nos empurram adiante, pois, sem ele, paramos no tempo, deixamos a vida passar com calma, mas em vão.
Eu acredito em ciclos. E, hoje, fecho um, mas com a certeza de que começo um novo. Porque hoje retorno ao meu local de origem: eu mesma. Volto mais forte, mais madura, menos irritada. Volto com mais vontade de seguir adiante e perseguir os sonhos que ousei deixar pelo caminho. Volto acreditando mais em mim, e nas histórias bonitas, porque, como dizia Freddie Mercury, os contos de fadas de ontem vão crescer, mas não morrer.
Eu posso voar, meus amigos.