Baixei a Guarda

As luzes foram acesas, os cantinhos trazidos à mostra. Meus olhos começam lacrimejarem por terem sido forçados na busca da identificação de tantos estragos, que apareceram, mancos de soluções. Agora doem, vivem semicerrados, somente assim consigo olhar para tudo que se evidenciou.

Não adianta tentar apaziguar a indignação com luva de veludo. Tudo revelado! o bolor, os estrumes deixados pelas ações inconsequentes pautadas pela injustiça, ganância,avareza e a desumanidade. Nos corredores, vejo homens dignos do trabalho, de mãos abanando sem o pão para o filho, mendigando o direito à labuta. Noutros, doentes condenados morrerem a míngua aguardando o doutor, que na antessala remói o sentimento do abandono social, descaso coletivo que ele está inserido.

A cena é cruel, como a vaca, depois de esgotado o leite de suas tetas, continua sendo ordenhada pelo retireiro, que mesmo escorrendo o sangue por entre suas mãos não desiste de continuar o trabalho nefasto, cruel, do lucro a qualquer custo.

A dor não é maior porque me nego descartar a esperança do ocaso revelar um amanhã onde as feridas serão curadas, e à partir daí o novo fulgurante reinar. Mesmo que...

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 05/12/2016
Reeditado em 05/12/2016
Código do texto: T5844551
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