Desculpe o transtorno, mas preciso falar da saudade.

Saudade é a palavra que vem me regendo ultimamente. Ela pede impacientemente que eu a transforme em palavras e a deposite em um outro recipiente. Ela admite que não sou capaz de suportar uma dose tão grande dela. Então a obedeci. Escrevi. Mas ela me enganou e não diminui em mim. Continuei a escrever com grandes esperanças. Já não havia mais o que dizer a seu respeito e ela ainda ardia em meu peito, gritava que queria sair. Foi quando ela desceu silenciosamente, escorregou pela minha barriga e permaneceu no meu umbigo. Ficou quieta enquanto meus dedos levavam minhas vistas até o motivo dela estar ali me fazendo companhia. Devo admitir que eu não deveria ter feito aquilo. Ela girou. Girou tão forte que causou uma tempestade dentro de mim. Um furacão de sentimentos e imagens se misturaram dentro de mim e eu desisti. A saudade, arrependida, queria ajeitar a bagunça e se desculpar. Acalmou a tempestade. Fez questão de lavar meus olhos e disse que era para eu ver melhor o que tanto gostava. Ela entendeu que às vezes causava dor por estar ali, então esquentou meu peito e pediu, mais uma vez, para que eu escrevesse sobre ela. E assim o fiz. Entendi que ela não sairia dali, me servia de companhia e todo dia me dizia que tudo aquilo existia. Dia era calmaria. Noite era tempestade. Mas tudo não passava de saudade.

B Flores
Enviado por B Flores em 03/12/2016
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