MÚSICA ERUDITA (POR ACASO ?)...
Naquele local nasci, por lá estive por 15 anos, foi o que conheci da minha infância. Deixou muita saudade. (mais detalhes em minha página na crônica “ A SÉTIMA”). A casa velha que caiu, mas, outra bem maior foi construída no lugar. As plantações, horta, a casinha do poço, as flores de minha mãe, ainda guardo na memória, tudo inesquecível.
O caminho que levava até o portão de madeira era de terra batida; em toda sua extensão havia flores diversas; açucenas, roseiras e dálias em variadas cores, papai e mamãe tinham os mesmos gostos por flores e plantas ‘amavam’; herdei deles esta paixão.
Fazia parte deste meu mundo um quintal enorme e horta tão bem cuidada por papai, onde também um pé de "amora reinava majestoso", era nele que meu irmão o “caçula” dos homens (mais novo que eu) rindo da minha covardia me instigava a subir no galho mais alto e de lá pular; agora dá-me arrepio só de pensar, mas, longe dos olhos dos irmãos mais velhos e de mamãe lá ia eu que pensava com meus botões: “ se ele pode pular daquela altura eu também posso”, (sempre tive pavor de altura), ele sabia disso e me desafiava, eu, mais por 'marra' enfrentava o perigo. Graças aos ‘protetores’ das crianças nunca aconteceu tragédia, pois estamos inteiros até hoje. (risos).
Os dias que mais me encantava eram os domingos, na época que em frente minha casa estavam construindo uma escola, (detalhes na crônica ’A SÉTIMA’). Durante a semana se ouvia o burburinho normal de construção da obra, mas aos domingos; que dia!. Logo cedinho, digo; lá pelas sete; o que ouvíamos era uma melodia que aos meus ouvidos era divinal e/ou, angelical.
Aquele som vinha da escola de uma vitrola antiga portátil que tocava discos de ‘vinil’, (não existia ainda o CD). Naquele tempo eu não sabia do que se tratavam aquelas músicas e nem que eram “eruditas” e que aquele homem (o 'guarda') tinha um bom gosto extraordinário e ainda com generosidade partilhava ao deixar o som bem alto tomando conta de todos os cantos daquela escola. (Fico pensando que ela foi construída ao som de "valsas"), UAAUU!.
Eu e mamãe sem resistir ao ‘som’, íamos para o quintal sentava-mos em um banco de madeira que havia debaixo do pé de amora para ouvir melhor e ficávamos encantadas com “ Danúbio Azul” , O Lago dos Cisnes, Vozes da Primavera, Valsa das flores, Valsa do Imperador, Sobre as Ondas, Contos dos Bosques de Viena e outras, todas lindas. Somente muitos anos depois é que fiquei sabendo que eram Valsas e deu-me prazer em saber o nome delas.
Até hoje quando as ouço, me lembro daqueles dias. Eu parecia bailar, aquele som penetrante enchia minha cabeça de imaginações mil e me perguntava quem havia feito músicas tão belas e nem sabia que eram compositores de outro século.
Entre eu e mamãe não havia o silêncio e sim a ‘música’, ou então; era um dos silêncios mais eloquente e fascinante de minha infância, enchia o ar;‘músicas eruditas’ (por acaso?); ficávamos ali a degustar o som por algum tempo, depois eu ia brincar e mamãe aos afazeres domésticos, afinal de contas era domingo dia de macarronada! (um luxo para a época) e logo mais o estômago iria reclamar... mas, as músicas continuavam até às 18 horas. Até hoje povoa meu imaginário... a saudade do cenário daqueles dias impagáveis.
Momento memorável e aprazível que me seduz,
dentre outras Valsas, mamãe; eu, e Danúbio Azul.
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- SP - Ly –
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Gratidão ao 'Senhor Darci', o guarda que tomava
conta da escola aos domingos.
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https://www.youtube.com/watch?v=4FcTYF0OBSg
Compositor Austríaco Johann Strauss - El Danúbio Azul
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Gratíssima por tão bela Interação
** Gilberto Chaves
Saudade é uma doença que vai
matando devagarinho sem
nunca chegar ao fim.
E nem nós queremos.
Como é bom sentir essa dor
sem ser masoquista.
Dá para entender esse paradoxo ?
Nâo, nâo dá ! Isso é saudade !
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** Fernando A Freire
Flores, Lago, Cisnes, Bosque, Primavera...
Está faltando o chão batido.
Está faltando o portão de madeira.
Ou nada está faltando na comparação do ambiente
do compositor com o das ouvintes sentimentais
que assimilavam tão belas músicas.
Quanto à saudade, vez ou outra ela vem Sobre as Ondas.
Não deixa de ser uma palavrinha acidulce.
Saudade é doce de pronunciar, mas sua
acidez quase sempre faz chorar.
E que em 2017 sejam perenes as águas do seu Danúbio Azul.
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