(IN)VISIBILIDADE
O tempo passa austero e linear.
Juiz e martelo, sentença e execução.
Sob a copa do velho amigo ingazeiro,
às margens do rio observo, silenciosa,
o fluxo ininterrupto do cair
grão-a-grão, da areia na ampulheta cósmica.
O som do teu riso ainda ecoa em meus ouvidos...
Não esqueci a modulação da tua voz.
O frio do inverno queima minha pele,
deixando-a feito pergaminho... penetra meus ossos
causando-me muita dor... e tua porta?
Continua fechada... por conta do que, eu não sei!
Tens vazias as mãos, depuseste tuas armas...
e dizes que tua alma sorri sempre para mim...
por que então não distendes tuas asas possantes e
vens me encontrar... que algemas te prendem...
que LEI te proíbe de abrir essa porta...
de transpor essa última ponte?
“As flores acordam as abelhas”...
então, por que teimas em dormir? Ouve-me!
As lesões se multiplicam tentando compor
uma tapeçaria de retalhos diversos
sobre a luz indômita do meu olhar,
puro negrume azevichiano...
“... estarei sempre presente... quando sentires paz na tua alma...”
Estou em paz, agora entendi o segredo explicito da vida:
Tudo passa, só o que é verdadeiro permanece.
É só somar ou multiplicar pelo numero atômico!
Ouço, vejo... sinto... é que não morri, ainda
e isso é o que interessa, a mim, a ti não sei!
Ouve-me, vou contar-te um segredo:
A Alma do Sol continua assinando meus versos
aqueles mesmos que a Senhora do Silêncio,
da Ordem e do Medo – Soberana –
recita nas audiências, em seu tribunal,
entre as rochas milenares, morada do Tempo!
Finalmente Acauã aceitou a companhia
de Oroboro no sagrado ritual de projeção...
viajam agora, fôlego-a-fôlego, juntas...
seguindo a libélula veloz, rumo ao pôr-do-sol.
Logo chegarão à Grande Assembleia Planetária...
lá não serão rapinante/ofídio.
Quanto a mim, te espero aqui... já não tenho pressa.
Sei, a eternidade me é favorável.
E mesmo que Saturno, com seus fios de neve
continue tingindo, paciente, meus cabelos...
meus olhos fitarão o horizonte, “mareados” de saudade,
E daqui não arredarei... espero-te, vem!
Olha, ali, à flor d’água, vês?
Um peixe-anjo reluzente, multicolorido,
feito chapéu de reisado, piscou o olho para mim!
Silêncio... alguém recita uma prece: “Ave Regina Mater...”
Tudo parou a respiração... eis que o Cordeiro de Deus
me ouviu e compassivo disse AMÉM!