Textos da meia-noite - Sons
A cigarra que canta lá fora. O pingo que caí do chuveiro. Os cachorros do vizinho que insistem em latir para um gato que passa no muro. Sua perna roçando no lençol. O tic-tac do relógio da sala. Todo esse barulho perturba minha mente. Quando tento me livrar dos sons vem - um suspiro seu mais ofegante. O miado do gato ao fugir dos cachorros. O cachorro que mais agressivo late para atacar o gato. O pingo que agora mais parece chuva a cair do chuveiro. A sinfonia dos insetos lá fora, e um sapo. O relógio que ao dizer meia-noite ecoa doze intermináveis badaladas de um sino. Me vejo dentro do sino. Sinto-me enloquecer. Tudo gira. E esses sons mais constantes se misturam. Se repetem. Aumentam de volume.
E de repente vem um pernilongo e isola o seu som em minha mente. Concentro-me e o percebo próximo ao meu ouvido. Pousou. É a hora de atacá-lo... Pronto. Vejo o sangue quase preto em minhas mãos. Matei!
E com ele se foram todos os sons que estavam dentro de mim.