Fuligem

Queimamos

como folhas secas sob

o sol de verão.

Incandescentes fagulhas

alcançando a eternidade dos momentos

que se findam em seus começos;

Como o ciclo sem fim de uma

serpente engolfando a própria cauda

na alquimia dos corpos que se atraem.

Destruímos cidades, fronteiras

barragens e castelos com armeiras.

Tomamos os mundos um do outro

como guerreiros furiosos digladiando

pela vida.

Carne, ossos, músculos e sentimentos:

Entrelaçados sob o som das nossas

armas a cantar para o mundo

a nossa força bélica.

Mas tudo termina.

Tudo se finda.

O fogo que queimava com a força

de mil sóis destruiu todo hélio

e se transformou numa esfera fria.

Deixamos de ser labaredas

e nos transformamos em borrões.

Marcas de fuligem impossíveis

de desaparecer.

Marcamos pela guerra, pela força

e o fogo da paixão.

Mas ao final, como uma mancha

indefinida num lugar que nunca

será limpa, o que sobra

são apenas

cicatrizes.