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UM PRESENTE CHAMADO AMIGO

Ganhei do senhor do tempo, um presente
Não o esperava mas, eu então sabia...
Que de pronto era um presente especial
Pois sua luz interior serviu-me de guia
Meus caminhos estavam em estado latente
Meus passos cansados presos no umbral

Vivia silente em cenários entristecidos
As lágrimas eram-me o suplício d'alma
Pedindo desesperadamente por u' milagre
O íntimo pedia suplicantemente a calma
Ao longe ouviam-se gritos doridos e gemidos
No ar um odor fétido angustiante e agre

Em meio a morte e a vida, eu era só apenas
Uma alma cansada de lutar contra si mesmo
Debatiam-se os tormentos na face lacrimejante
Remorsos de uma vida deixaram-me a esmo
Fui aos poucos sentenciada a pagar as penas
Mas foi por um milagre que surgiu um viajante

Caminhava silente com luz própria flamejante
Olhou-me com desvelo o semblante juvenil
Estendeu-me os braços em gesto de amigo
Acolheu-me em teus ombros o espírito febril
Levou-me consigo para o reduto de Dante
Deu-me ao poeta de presente, fi-lo de abrigo...

(Simone Medeiros)
02/01/2015
Ilustração: "Dante e Virgílio no inferno" Por Delacroix, Museu do Louvre
Simone Medeiros
Enviado por Simone Medeiros em 25/11/2016
Código do texto: T5834805
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