Voo

Quantos mil pés? Já não mais possível qualquer pé de nuvem, ausente o tronco que liga à raiz Onde o chão intocável agora? O que significa não tocar o chão? Todas as perguntas para além do bem e do mal nesta dura e doce comunhão com todas as coisas tão marcada no rosto, na sobrancelha por fazer, no esmalte envelhecido nas unhas, as frutas sobre a mesa da cozinha, a geladeira cheia, a água que restou no copo sobre o criado (o que falaria o criado se não fosse mudo, quando o despertador fez aquele alarde às quatro da madrugada?) e o livro fechado à meia noite sem marcador nas Cartas entre Clarice e Fernando nos tempos dos Correios também assim, que sim, tão ato gratuito, os meus cartões postais, e os filhos na chegada, o cheiro de vida que há na infância, e em toda e cada espera, o abraço-corpo-no-varal e os livros a serem garimpados na estante, quando, no tempo quando E nos milhões de pontos que entre uma coisa e outra, essas milhares de pessoas indo e vindo de um lugar pra outro, entre olhares longes e perdidos, de passagem pelo dia Onde aquela Duração e Morada que pareciam ser da essência de todas as coisas? Duracidade é a sucessora? Sim A noite chega dura e doce E os dedos deixam estas digitais aflitas emolduradas na tela do celular (ou seria entre o céu e o lar?) enquanto pessoas aflitas aguardam em pé a porta do avião interromper a cena