miração
Do umbigo dessa savana vasta e quente em que me encontrava olhava para o alto e me maravilhava com o céu e as estrelas; enquanto uma lufada de vento rugia tenso. Os trabalhos são aberto pelo Mestre, logo bebo dessa bebida espeça e amarga cor de terra que que desce pelo desfiladeiro da boca até alcançar as entranhas e de lá penetrar na corrente sanguínea e seguir para o cérebro. O chá é servido pelos ajudantes do mestre que tinha uma cara de purgante; sentado em volta da mesa meu espinhaço chacoalhava por todos os lados tocado pelos cânticos entoados. Logo senti que os ponteiros dos relógios se distorciam os minutos já não existiam meu corpo estava em estado de transe qual narcótico experimentava impressões sensoriais violentas, o pavio aceso iluminava a memória apagada, esquecida e desconhecida; me desreferencializava de tudo que me prendia, os pensamentos desconexos se ligavam se entrecruzam, se liquefaziam, iam e vinham, medos, pavores, fobias, sentia energias telúricas, luzes multicoloridas piscavam, via gente constituída de cinza por dentro e de esqueletos por fora; procurava por as mãos na enorme mesa branca para poder ter algum referencial de realidade, ouvia sons guturais vindos lá de fora; Via que o pátio era um imenso vomitório onde ventres queriam sair pelas gargantas e um cheiro nauseabundo se espalhava pelo ar, sentia náusea, ao mesmo tempo e simultaneamente me via do alto e de baixo, alguém sussurrava um oração em meus ouvidos, percebia que era eu mesmo; sentia-me um caranguejo a habitar a lama dos pântanos em eras geológicas passadas; tinha a sensação que caminhava por entre flores, besouros e borboletas fossilizadas, vi a imagem de uma santa do alto, me sentia um drone enquanto via um anjo sentar ao meu lado, também via imagens de chifres, hieróglifos, rinocerontes, areia do deserto, anéis de saturno, uma senhora com um dedo de cristal varria com uma vassoura de diamantes o universo; a poeira era cor de fogo e dela surgiam pontos de luz que se tornavam estrelas, tinha a sensação de que eu era um vácuo, um buraco negro a sugar toda a matéria escura em volta. Tomo um segundo cálice do chá de chacrona e areré, as imagens se apresentam com mais força e nitidez, sinto uma aura em volta de mim, os muros caiados que cerca o lugar me sugeriam paz, o olho estava afundado bem pra dento do globo ocular, um cântico em uníssono me acalmava, já estava extenuado e aos poucos os efeitos do chá foram esmaecendo, cansado e com aquelas sensações e percepções na mente; estava tomado por sentimentos ambíguos e uma angústia me tomava pela ausência de deuses ou pela plenitude de sua presença. Já sóbrio me veio na lembrança um trecho de um livro Camus que me marcou muito em que ele dizia preferir o céu e as estrelas aos deuses dos homens;