A ilusão e a morte que nos separe
Este desejo um dia há de me matar: querer pensar só com os sentidos, ser como árvores, montes e plantações, é uma espécie de fotossíntese com a vida, de um solipsismo panteísta que se insinua em cada imagem. Querer ouvir só com os ouvidos, ser respirado pelo ar, ser suspenso em pleno vácuo como um peixe no oceano, ou como a terra no espaço, sem pensamento sobre isso. Sentir tudo e ser tudo de todas as formas, pensar só com os sentidos, ser o vento e senti-lo a pensar, ser a música e ouvi-la a escutar. Sentir, apenas sentir sem ter pensamentos. É uma vontade de querer ser tudo e não querer ser nada. Será sonho ou realidade?
Última, confinada, a razão se bate contra as grades, escorrendo por entre os ferros como uma gosma de mil faces: a arte se fez carne e Maya tomou posse do seu Grande Jogo da existência, a realidade se mistura às minhas próprias paisagens, paisagens da minha alma...
O que penso se desmembra, se confunde, se embaralha, cada pensamento é um universo vivo de cores e palácios. O mesmo que aqui destrói é responsável de salvar, é como chutar ao gol, correr junto e agarrar. Só em sonhos, vamos lá! Saibamos a sonhar.
Como estou a saber se sou eu que penso se a identidade a mim possui mil faces? Que prove a si mesmo ( alguém ) que és tu que está pensando! E bem-vindo ao "eu" que se desfaz ao mínimo toque, é a ilusão que a mim me move, ser tudo e não ser nada. Nada importa. Se é com os sentidos que voamos...
Mas se há de matar-me este desejo, que eu seja o rei dos sonhos meus, rei louco, que brinca de construir reinados somente para devasta-los. Louco sim, mas um completo rei - a única coisa que ele sabe!
E como rei da ilusão que me criei, deste mundo nunca sairei, nunca morrerei, pois a morte para quem já morreu anda ao lado como duas crianças passeando pelo pântano...
É os sentidos que falam...