Barcos de Papel




Queria fazer um lindo poema, escolher o tema, derramar a emoção, envolver a alma e o coração.
Queria pintar a esperança com as cores do arco-íris de um jeito tão forte que ela jamais se desbotaria, nem que os momentos fossem de nostalgia.
Então, derramaria as cores em todos os cantos, deixaria as estradas floridas, mesmo quando o tempo oferecesse as inaceitáveis partidas.
Como criança viajaria na imaginação até dar de cara com a emoção, me embolaria em seus braços como nos tempos em que amava os banhos de chuva e esperava ansiosa as enxurradas só para fazer barquinhos de papel, com nome e tudo.
E sabem por que?
Porque eles se juntariam em algum ponto do oceano, independente das ordens do tempo, e lá ficariam até que um dia a paixão me transportasse rumo ao infinito juntos navegarmos nos sonhos de mãos dadas com a alegria.
O amor...ah o amor...este seria acessível, preencheria as linhas e as entrelinhas da pauta da breve existência.
Passageira que sou do trem da ilusão, chegaria enfim na estação buscada em canto e verso,  até sentir pulsar no peito todos os sons da felicidade.
Mas, percebo que o poema se revela um pretexto, o tema algo que canta a inspiração, porém neste instante inaudível.
E a emoção…esta permeia a vida, oferece sentido aos dias, determina os compassos da valsa que faz bailar o coração quando alma se apaixona, de tal modo que enxerga a vida colorida como o arco-íris em dias de primavera, onde plantei as flores da perseverança para que os jardins permanecessem floridos e perfumados mesmo no mais rigoroso inverno.
Quanto às partidas, descartei de vez o ontem, corro de encontro ao presente, esqueço o futuro por absolutamente improvável.
E assim, diariamente escuto a criança que um dia fui e que hoje vive no meu coração, guardiã do melhor de mim. Percebo o quanto é importante sonhar, buscar a simplicidade, ser solidário, fraterno, amigo e presente.
Vez ou outra, quando sobem as cortinas do etéreo palco, a realidade se desnuda, sufoca o porto onde vive a criança, mostra estradas solitárias e íngremes.
Nestes momentos, a menina que mora em mim acorda apressada e diz amorosamente frases aparentemente desconexas, mas que tanto revelam....
- Quer presentear alguém de forma inesquecível? Dê-lhe uma parte de seu tempo! Isso mesmo, de seu tempo, o bem mais precioso que Deus nos oferece.
Faça barcos de papel, escreva uma canção, navegue em todos os sonhos, estenda o manto da felicidade e do bom astral no varal da esperança, independente do sol ou das tempestades.
Caminhe sobre a relva, tome banho de chuva, reconstrua sua vida. Apague de vez as lembranças deterioradas, olhe para cima, perceba as estrelas!
Olhe para os lados, perceba o outro. Estenda os braços, busque abraços!
Então, o vazio que veste as mudas e indiferentes paredes, repentinamente sinto-o preenchido por uma inexplicável emoção que vem colorir todos os cantos opacos para sinalizar no sentido de que a vida é maravilhosa, o amor existe, a paz é algo sublime e que no oceano dos sonhos cabem todos os barcos de papel da breve existência! Ana Stoppa, 17.11.16
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 17/11/2016
Reeditado em 11/03/2017
Código do texto: T5825933
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