nervura bela  

A película do véu da noite era  fina e negra;
Se descortinava  para além dos arranha-céus da esquina;

franjas debruavam-se das copas das palmeiras gigantes
O aroma forte de café torrado fendia o ar, ondeando e perdendo-se na madrugada.

Olhava por entre as frestas dos topos das antenas metálicas e via que  as nuvens me furtavam a lua,
Em meio à luminescência perdida, nas fachadas de neon.
Estava em desassossego que  só  foi quebrado quando verti  um gole de qualquer coisa violenta;
Me intrigava com a ubiquidade da intricância dos objetos,
seres e máquinas fundidos como num amálgama;

Seguia na madrugada por ruas, becos, perdendo-me, encontrando-me,
entre aquelas  redes artificiais complexas
Era  uma  mônada a caminhar por entre o vespeiro de artefatos, sons de  sirenes, meus dilemas,  nervuras belas, boleias, faróis, buzinas, becos, sussurros, falas e  gestos,

Pelas vias perambulavam putas, trans, bêbados, ladrões, garotos de frete,
As estruturas de aço rasgavam  o espaço e  os estilhaços de um  vento frio e cortante  me doía nos ossos.

 
Labareda
Enviado por Labareda em 04/11/2016
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T5813335
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