A BELAS ARTES
A BELAS ARTES
O ciúme deve ser aquele destino depois da noite
onde o interesse perturba os olhos
olhando pra ela quero dizer que fico interessado
também de olhos perturbados
calando a noite sozinho no frio do inverno
lá fora sozinho olhando pra ela
de interesse vil perturbado caindo
no veneno que destina seus lábios
pouco falam lábios brilho de água
saliva mágica cumprimenta meu acaso
de ter vindo sentir esta doce ilusão
porque ela é bonita compreenda
a beleza no sentido próprio de ser
ela uma certeza de véu nublado
pra quem não tem qualquer escolha
entre as coisas que ela veste entre
as coisas que penso ela vestir
estão as coisas que tiradas
não dão a ela nem um caso
de vulgaridade alheia sereia
de pronto na pedra tocando harpas
convida mesmo nua a escutar
seu perfume saindo prendendo
as forças ordinárias as forças
todas que estão agora fazendo sentido
a ideia de um sonho possível
me distrai ainda que vivo estou
entre aqueles que não sonham
querem possui-la de verdade
olhos negros desejo aberto
de certo perguntam sobre o amante
bem cuidado estrelado num fraque
de linho nobre diante da sala
eu pergunto sobre o mundo
das obras mais belas
o que são elas sem o moderador
solitário admirador hilário
que condena a si mesmo
pelo poder de estar perto
sem o poder de chegar tão perto
de envolver-se ficando proibido
de matar-se por qualquer amigo
que tocando-a desafina desafia
desatina o equilibrio mostrando
que estou possuindo a entrega dela
como minha santa vaidade permitindo
endiabrar-se como num ringue
lutar pela jóia emoldurada num vidro
que de cristal quebra-se a magia
estou a passos calmos diante dela
e não consigo entender se quer
alguma palavra do que dizem
meu respeito perdeu-se esta noite
anda procurando encontrar
ela quem sabe sorrindo
quem sabe eu e outra taça
encontre ela sozinha...
MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morphine