A Música e o Sol
Um dia após a sua criação garboso o sol falou:
Meus raios brilhantes podem penetrar em qualquer lugar.
Não há fronteiras que possam me segurar.
Os humores dos povos mudam de acordo com meu estado,
Coro a cor dos olhos, a espessura dos fios dos cabelos.
Os Altos e baixos da oscilação natural da existência.
Para amenizar o dilema o Criador ruborizou-se em silêncio.
No mesmo dia convocou os anjos seus ministros para a reunião.
E sobre a grandeza do astro rei, o que faremos nessa questão?
O primeiro falou a neve poderá aplacar os fortes raios.
O segundo retrucou ele derreterá o gelo e aquecerá de novo.
O terceiro disse gosto das trevas, só as nuvens poderão detê-lo.
Mas os demais disseram em coro ”Criador recorra ao som”.
A música será a única capaz de equiparar-se ao sol,
Uma boa canção é companhia para todas as horas.
Igualmente não há fronteiras que possam segurá-la.
Os humores dos povos mudam de acordo ao seu estilo.
Ao escutar os olhos brilham e as feições resplandecem.
Para cumprir suas ordens o anjo regente do coral.
Trabalhou durante a noite dando asas a imaginação.
Para surpresa, o novo dia amanheceu nublado.
Inconformada com a ausência do astro rei,
A andorinha ficou no ninho e a águia na brenha,
Miou o gato e se encolheu no canto do fogão à lenha,
Ensaiou o vira-lata alguns latidos, mas se enroscou no caminho.
A lavadeira cansou de esperar a roupa secar-se no varal.
Sem nenhum constrangimento passado alguns segundos,
O anjo fez sinal e soou o primeiro Sol da Sinfônica celestial.