A Música e o Sol


Um dia após a sua criação garboso o sol falou:
Meus raios brilhantes podem penetrar em qualquer lugar. 
Não há fronteiras que possam me segurar.
Os humores dos povos mudam de acordo com meu estado, 
Coro a cor dos olhos, a espessura dos fios dos cabelos.
Os Altos e baixos da oscilação natural da existência. 
Para amenizar o dilema o Criador ruborizou-se em silêncio. 
No mesmo dia convocou os anjos seus ministros para a reunião.
E sobre a grandeza do astro rei, o que faremos nessa questão?
O primeiro falou a neve poderá aplacar os fortes raios.
O segundo retrucou ele derreterá o gelo e aquecerá de novo.
O terceiro disse gosto das trevas, só as nuvens poderão detê-lo.
 
Mas os demais disseram em coro ”Criador recorra ao som”.
A música será a única capaz de equiparar-se ao sol, 
Uma boa canção é companhia para todas as horas.
Igualmente não há fronteiras que possam segurá-la.
Os humores dos povos mudam de acordo ao seu estilo.
Ao escutar os olhos brilham e as feições resplandecem.
Para cumprir suas ordens o anjo regente do coral.
Trabalhou durante a noite dando asas a imaginação. 
Para surpresa, o novo dia amanheceu nublado. 
Inconformada com a ausência do astro rei,
A andorinha ficou no ninho e a águia na brenha, 
Miou o gato e se encolheu no canto do fogão à lenha,
Ensaiou o vira-lata alguns latidos, mas se enroscou no caminho.
A lavadeira cansou de esperar a roupa secar-se no varal.                                                                            
Sem nenhum constrangimento passado alguns segundos,
O anjo fez sinal e soou o primeiro Sol da Sinfônica celestial.
Marly Ferreira
Enviado por Marly Ferreira em 31/10/2016
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T5809010
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