A... ZEVEDO JA SABIA
Muitos tem medo da morte,
não me incluo nestes.
Estou concluindo,
um ciclo nesta semana,
meio século de alegrias e tristezas.
Confesso,
mais de angustias e tormentos,
do que necessariamente de alegrias.
Tudo isso,
porque vivi intensamente o futuro
numa ansiedade constante,
querendo mais do que tenho,
obtendo alguns prêmios.
Guerreira por necessidade,
queria o conforto do sossego,
porém Deus disse:
Vá ser instrumento,
deu-me a inquietude,
como presente.
Alcancei,
bem no meio da vida,
o que muitas nem ousaram.
Sinto-me já satisfeita,
com amor, filhos, morada.
Mas para ser sincera,
viver intensamente a gente.
Principalmente,
quando somos poetas
e como consequência
carregamos a dor de outrem,
como a um fardo.
Não há horizonte além da janela,
para quem vive nos alfarrábios
e não constará no cânone literário.
A chuva está convidativa,
quer cair no corpo ainda quente.
Pois que venha!
Que me cubra com manto de grama,
num adeus sincero como alento.