A... ZEVEDO JA SABIA

Muitos tem medo da morte,

não me incluo nestes.

Estou concluindo,

um ciclo nesta semana,

meio século de alegrias e tristezas.

Confesso,

mais de angustias e tormentos,

do que necessariamente de alegrias.

Tudo isso,

porque vivi intensamente o futuro

numa ansiedade constante,

querendo mais do que tenho,

obtendo alguns prêmios.

Guerreira por necessidade,

queria o conforto do sossego,

porém Deus disse:

Vá ser instrumento,

deu-me a inquietude,

como presente.

Alcancei,

bem no meio da vida,

o que muitas nem ousaram.

Sinto-me já satisfeita,

com amor, filhos, morada.

Mas para ser sincera,

viver intensamente a gente.

Principalmente,

quando somos poetas

e como consequência

carregamos a dor de outrem,

como a um fardo.

Não há horizonte além da janela,

para quem vive nos alfarrábios

e não constará no cânone literário.

A chuva está convidativa,

quer cair no corpo ainda quente.

Pois que venha!

Que me cubra com manto de grama,

num adeus sincero como alento.

Railda
Enviado por Railda em 26/10/2016
Reeditado em 26/10/2016
Código do texto: T5803595
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