[De Madrugadas e Silêncios - Variante 1]
Desguiagem, ou reflexão ao modo dos geômetras: na mesma madrugada, vigem silêncios e silêncios, alguns nada lúbricos, vazios de qualquer esperança, porém, profundamente existenciais — a coisa corre assim:
... mas, sabe-se, há séculos, que ficar em silêncio é que é falar com a morte, ou, com os seus habitantes, os mortos... acabo de reconcluir tal coisa.
Em algum dia de um julho que já se foi, sob o [alto] céu de Santa Juliana — Minas Gerais, é claro—, um certo bêbado, autoproclamado Bob Marley, me contou que, em madrugada sem lua, foi ao cemitério e procurou o mais imponente dos túmulos para que pudesse se deitar um pouco... queria falar com pessoa ali enterrada, e para isto, nem gastaria palavras, só silêncios — a madrugada não seria perturbada! Contudo, o vigia do cemitério, um morto-vivo entre os vivos-mortos, talvez por não suportar tanta lucidez, pôs o bêbado portão afora. Pode?! Nem duvide: pôde...
Na vida, tudo é desguiagem, viragem de vento, ou apenas [inconformadas] curvas de rio?! Das coisas que me cruzam o olhar, quase nada eu sei; e a cada dia sei menos, mas duvido de todas! E não abro mão de minha parte: às vezes, tomo atalhos errados, mas não fico no lado passivo dos litígios da vida; eu sou usina em atividade, eu transformo o que vejo! Sei que morro inquieto, ainda que imbuído de silêncios de madrugadas vazias, vazias, apenas existenciais... [Eu?! Eu nem disse nada!]
[Penas do Desterro, 26 de julho de 2007]