Rua Santos Tomás!
A minha casinha rosa tinha móveis feitos por papai.
Carpinteiro dos bons . Fizera mesas, cadeiras,armários de parede com muito capricho e belo retoque.
Ficara bonita a nossa sala,onde fazíamos nossas refeições,
sob a luz do velho lampião e que fora por muito tempo nossa fonte de luz.A luzinha fraca e as sombras que se desenhavam nas paredes eram, para mim misto de distração e descobertas.
O silêncio da noite tornava ainda mais inexplicável aqueles momentos,em que minhas fantasias misturavam-se naquelas soberanas horas.
O mundo era ali,nos cômodos da pequenina casa,abrigo de meus sonhos de menina,onde eu era plenamente feliz.
E hoje,a saudade roendo,trazendo fresquinha,o cheiro do café da manhã,do bolo de fubá,amorosamente feito pelas mãos de minha dedicada mãe.
Cercas de arame farpado,cheiro de roupas recém-lavadas,a velha gaiota sempre a espera de ser usada,descansando no terreiro.
Quintalzinho de verduras,chuveiro de campanha,fumaça das chaminés,água fresca da moringa,que um dia quebrou,mas ficou na memória aquele gosto de barro,próprio do objeto.
Jardinzinho! Todo o povo possuía um, por mais modesto que fosse.Palmas,copos-de-leite,hortênsias,dálias,margaridas,cravos e rosas miudinhas,enfeitavam as moradias da vizinhança.
Democráticas flores!Enfeitam palácios e ranchos,não sabem diferença entre doutor e caboclo.
A estação,o trem,sonhos indo e vindos nos trilhos diariamente anunciando seu apito peculiar.
Velhas casa,carreiros,carroças,velha locomotiva desativada sob o velho barracão,onde armazenavam madeiras da fábrica.Numa noite de intensa tempestade desabou acordando os moradores.
Crianças de minha infância,ainda absolutamente presentes em minhas lembranças e alguns fragmentos de cantigas ainda soam em meus ouvidos.
Como é bom voltar no tempo,naqueles longínquos dias,de infância vivida com intensidade,onde ficaram ancoradas as mais ternas
recordações de uma época em que tudo era simplesmente um não mais acabar-se de ser feliz,na minha casinha eternamente rosa!