DOÇURAS E O GRITO

Por imaginar-me poeta, a rigor, nem sei se brinco mesmo com as palavras, como em geral as pessoas pensam e dizem. Em verdade, entretenho-me. Até acho que são elas que brincam comigo na inocência da farsa, do sonho e das fantasias. Somente uma coisa é certa, elas são o meu visceral alimento. Permaneço vivo de teimoso para com os mistérios da trajetória. Quando, afinal, saberemos da reta de chegada? Enquanto este tudo, o alter ego é uma jovem múmia – esfomeada – que se alimenta de maçãs do amor num cantinho do pátio da quermesse, entre o pequeno circo e o parque de diversões, com medo do palhaço, da sala dos horrores e da inocente roda gigante. O mundo dos adultos dá bem mais altas voltas do que ela e do tombo pode nem restar o grito.

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16. Revisado.

https://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5792293