O amor entre nossas histórias
Estava chegado o dia de ir embora. A cidade maior me esperava com toda sua urgência, com toda sua pressa de princípios.
Você apareceu com seus olhos de sono, seus cabelos vermelhos, um medo entre os dentes. Parecia que não me reconhecia de outro jeito.
Já tinha sido seu menino, seu amor agora. Gostava tanto de te espiar dormindo, mansa, quase uma flor ressonando.
Mas tinha chegado o dia de voltar para minha casa, minha vida cheia de coisas sempre para o ontem, meus afazeres na cidade grande.
Estávamos tão longe daquilo, na nossa casa bem perto do nada, sem barulho, sem fumaça, sem pressa. Você sempre calma, quase uma alma solta pela casa silenciosa. Não havia em nós mais que dois minutos de ansiedade, vivíamos assim por viver. Você tinha um ar de margaridas, eu um ar de tudo bem.
Tinha se avizinhado a hora de partir, eu pra aquelas lonjuras, e você aqui longe daquela lonjura, nem nos dávamos conta que tamanho era essa distância.
Tão logo amanhecesse teria que agarrar-te o mais próximo possível, sentir tua pele, tua pulsação, teu hálito de amor e doçura. Tinha que saber guardar-te em mim, teus cheiros, tuas vontades, teus medos, os meus medos eu não podia deixar em você.
A cidade é grande, mas fica longe, quase uma galáxia de saudade. Sempre dizia que um dia ficaria para sempre. Mas o sempre custa a chegar por aqui.
Você serena, parecia uma tarde sertaneja, quente, arfante, mas quieta. Queria usufruir ainda disso tudo, mas não podia era somente uma visita de alguns dias, tinha que voltar para o cotidiano das coisas que me cercam.
Não sei me despedir, nem olhar para trás, não sei dizer adeus, sei sim imaginar como fica você e a me olhar, sem queixas, com os olhos deixados na estrada. Eu que parto partido em fragmentos, com dores nos ossos, nos olhos, na alma.
Queria que você fosse me buscar um dia, traçaríamos alguns paraísos e depois bem depois o silêncio nos tragaria inteiros, e o amor certamente estaria estreito entre nossas histórias.
Milton Oliveira
Junho/2014