artesanias (1 - 5)
artesanias 1
saudade sabe. saudade do que nem se teve nem se viu nem se veio nem me fui... ovo dentro da casca nem nasceu. e a noite trouxe os rostos atravessando a penumbra. secou a lágrima feito águia que voou. a dor voou sem a pomba que não soltei na sepultura. uma dor seca cega indo fundo lá embaixo, um ardor nos olhos, o soco no peito, ai dói o âmago e corrói moendo o miolo. amo a palavra lavada de aguardente tridentes tristes escavando ventriculoucos em meu labirinto secreto de cava língua.
artesanias 2
há vezes nem fico triste, fico noturna, vigia noturno da lágrima e da palavra(?), um silêncio no nada, um espalhado de água de mar na rocha, estilhaçada de sal ao acordar. seca ao sol dos trópicos, enfadada dos dias e noites de limbo e lama intermináveis de silêncio.
artesanias 3
de pedras e ondas é feita minha lagoa. sempre há uma morte a ressabiar-me. o amanhã, não me iludo, é ânsia agônica absurda. e hoje tenho é essa ponte de travessia bamba, corda no pescoço - a cabeça pende na solidão. meu olhar tomba despenca no abismo em queda de suplício.
artesanias 4
tentar o impossível, o inatingível ou o indisponível, tolice mórbida de ser humano eu sei.
artesanias 5
tenho parte com o mar. como gota tragada em sua fundura de ser. o meu amor é o mar. lúmen de pedra no fundo fogo dos oceanos. me alteio, me ergo escultura de ilha na superfície das águas.