espelhos
Não disponho mais de tanto tempo de vida,
sobretudo para coisas sem sentido e enfadonhas
como disputas de egos;
Sou engenheiro, e confesso que meu corpo já apresenta fadiga de material, não aguento mais os cálculos estruturais, os muros de arrimo,
ou refletir se o problema de tal obra é ou não estrutural, de impermeabilização ou umidade do ar... Se utilizarei outro alicerce, se a construção será erigida em concreto armado ou em aço, ou coisa que o valha,
Antes gostava de cálculo e do cheiro de cimento;
Hoje quero que vá para o inferno todos os cálculos e naturalmente o cheiro nauseabundo do cimento!
“O senhor quer meus préstimos é tanto“.
Não quero perder o tempo que me resta,
com a vida concreta, e nem com a rigidez das estruturas das construções e das posturas humanas,
com brigas de cegos e o silêncio conveniente dos acomodados
ou com inutilidades ou futilidades de quem se vê como imortal e vive em suas torres de marfim,
vivo sob meu teto de vidro;
Sou uma construção em ruínas com seus vergalhões à mostra,
e o que resta dos meus escombros são lembranças de um passado remoto,
época em que só tinha vez o presente e o futuro,
e caminhava com pressa pelas ruas modorrentas da pacata Pilão Arcado, em meio ao calor abrasador e a desolação do sertão,
E pensava a vida como se ela fosse uma eternidade;
Já não vivo entre sacos de cimento, tijolos, pranchetas, esquadros, curvas de nível;
Não tenho gosto para etiquetas ou jogos de máscaras,
estou cada vez mais taciturno e com feições rijas como uma parede rebocada;
Quero aproveitar o tempo que ainda me resta e não aparar arestas, o que aconteceu é porque aconteceu e não tenho mais nada a fazer,
meus acertos e desacertos,
meus amigos e inimigos,
Tudo é de minha inteira responsabilidade nesta quadra de minha idade;
Também não quero me salvar e nem que me salvem,
se for pro céu ou pro inferno é um problema de ordem pessoal,
Não tenho mais ilusão com nada!
Mas digo-lhe: tenho gosto pelo quinhão que me resta de vida,
constituído neste instante de matéria etérea que é o passado e que tento reconstituir através dos espelhos quebrados que refletem minhas lembranças;
E entre fragmentos de espelhos,
sigo tentando ser e caminhar por entre os estilhaços,
atado ao que resta de minha vã memória.
Não disponho mais de tanto tempo de vida,
sobretudo para coisas sem sentido e enfadonhas
como disputas de egos;
Sou engenheiro, e confesso que meu corpo já apresenta fadiga de material, não aguento mais os cálculos estruturais, os muros de arrimo,
ou refletir se o problema de tal obra é ou não estrutural, de impermeabilização ou umidade do ar... Se utilizarei outro alicerce, se a construção será erigida em concreto armado ou em aço, ou coisa que o valha,
Antes gostava de cálculo e do cheiro de cimento;
Hoje quero que vá para o inferno todos os cálculos e naturalmente o cheiro nauseabundo do cimento!
“O senhor quer meus préstimos é tanto“.
Não quero perder o tempo que me resta,
com a vida concreta, e nem com a rigidez das estruturas das construções e das posturas humanas,
com brigas de cegos e o silêncio conveniente dos acomodados
ou com inutilidades ou futilidades de quem se vê como imortal e vive em suas torres de marfim,
vivo sob meu teto de vidro;
Sou uma construção em ruínas com seus vergalhões à mostra,
e o que resta dos meus escombros são lembranças de um passado remoto,
época em que só tinha vez o presente e o futuro,
e caminhava com pressa pelas ruas modorrentas da pacata Pilão Arcado, em meio ao calor abrasador e a desolação do sertão,
E pensava a vida como se ela fosse uma eternidade;
Já não vivo entre sacos de cimento, tijolos, pranchetas, esquadros, curvas de nível;
Não tenho gosto para etiquetas ou jogos de máscaras,
estou cada vez mais taciturno e com feições rijas como uma parede rebocada;
Quero aproveitar o tempo que ainda me resta e não aparar arestas, o que aconteceu é porque aconteceu e não tenho mais nada a fazer,
meus acertos e desacertos,
meus amigos e inimigos,
Tudo é de minha inteira responsabilidade nesta quadra de minha idade;
Também não quero me salvar e nem que me salvem,
se for pro céu ou pro inferno é um problema de ordem pessoal,
Não tenho mais ilusão com nada!
Mas digo-lhe: tenho gosto pelo quinhão que me resta de vida,
constituído neste instante de matéria etérea que é o passado e que tento reconstituir através dos espelhos quebrados que refletem minhas lembranças;
E entre fragmentos de espelhos,
sigo tentando ser e caminhar por entre os estilhaços,
atado ao que resta de minha vã memória.