O CHORO DAS VENTANIAS SOLITÁRIAS
Eu só ouvia a ventania forte, parecia brigar com o tempo. Deitado em minha cama, imóvel e com medo do amanha, lágrimas desciam e entravam em meus ouvidos, meu olhar era sem surpresas, de tanto faz...
Como pode um ser humano sentir tanta dor? Como pode um coração doente suportar uma dor, uma saudade... Como pode? Perguntava-me retoricamente, sabendo que não ouviria respostas.
Em meio aquela tristeza e ouvindo o som das ventanias, eu dormi... Dormi com meu coração cansado e minha mente pesada, o dia tinha sido muito enfadonho. Mas, às três horas da madrugada, despertei, meu corpo estava leve e dormente, fui despertando meu corpo devagar.
Levantei-me e sai cambaleando pela casa sozinho e descalço, a tristeza perecia dá pontadas em meu coração, a angustia era demais em mim. Abri a porta da cozinha e como um sonambulo fui conduzido sem muita noção ao meu quintal, devagar fui chegando a um pé de mangueira do meu quintal, e cai prostrado com o rosto em terra chorando muito.
Um choro descontrolado e sem cuidado, com um choro vindo do meu íntimo, do meu ser secreto, cansado e com lágrimas quentes, algo me impulsionou a olhar pra lua entre as folhagens daquela árvore, vi que estava nublado e começava a cair gotas de chuva em meu rosto já molhado, com ventanias começava aquela chuva em mim, me deixando ensopado de lama e frio, tive uma sensação de desprezo ali.
Foi quando sozinho, falei com Deus, falei como se fosse a primeira vez que falava, me derramei ali, contei em sinceridade e fiz perguntas ao senhor Deus. Falei em voz balbuciada em lágrimas: Ajude-me Deus.
Cai desorganizado e adormeci em meio aquela lama e aquela chuva fina e fria.
Ouve um silêncio, os ventos pararam e a chuva me deixou, despertei em tremeliques de frio quando ouvi uma voz, uma grande e poderosa voz, que se dirigia a mim, que deu-me muito medo, me encolhi naquele instante, pedi misericórdia... E aquela voz começou a falar coisas que não conseguia entender, o medo não me deixava entender...
Eu ouvi uma frase clara dizendo: - Quem me ouve, quem? Eu sempre estou chamando alguém, mais ninguém ouve [...]. Eu chorei de medo daquela voz, pois parecia o “som de um contrabaixo” em um trio elétrico. Abalava meus pulmões.
E a poderosa voz disse:" - Por que tem medo? Você tem me chamado todas as noites, tem clamado por mim, por que tem medo? Eu não sou o que vocês imaginam de mim, eu não julgo e nem fico irado com meus filhinhos, eu compreendo cada um de vocês."
E continuou a dizer: "-eu sei a limitação de cada um de vocês, estou ciente da luta de cada um, e sei sua luta e dores, saiba que eu sou o amor, eu sou o amor em sua plenitude e clareza, “eu sou”, eu tenho prazer em perdoar e restaurar corações aflitos e desamparados como o seu."
"Eu sou o amor..."
Quando ouvia estas palavras sentir que aquele lugar onde eu estava parecia o dia, uma atmosfera de bem estar habitava ali, sentir que aquele lugar naquele momento era um lugar desejado pela alma humana, tudo estava claro e limpo, mas eu não abri os olhos, eu só percebi pelo clarear em minhas pálpebras, não tive coragem de abrir meus olhos...
E aquela voz me disse: - Levante-se e vá dormir, pois eu te sustento no teu caminhar, saiba que eu estou com você e sou com você... Mesmo que você não acredite, eu estou ao seu lado...
Naquela hora eu despertei, tinha sido um sonho, eu estava em minha cama, o mais interessante é que eu estava todo molhado de chuva e a dor tinha sumido do meu coração.